Oficina realizada pelo MinC debate relação entre cultura e saúde para o desenvolvimento sustentável

Foto: Victor Vec/ MinC
A iniciativa integra uma série de encontros voltados a discutir o papel do setor cultural na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), realizados em parceria com a Comissão Nacional dos ODS, coordenada pela Secretaria-Geral da Presidência da República. O foco desta edição foi o ODS 3, que propõe assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas, em todas as idades, até 2030.
“Foi uma discussão muito rica e um momento importante de troca de experiências. Tivemos a participação de integrantes do Sistema MinC, Ministério da Saúde, Fiocruz, ONGs e Pontos de Cultura. Nós estamos tecendo essa política e amadurecendo, principalmente, esse olhar de como a cultura é estratégica para a saúde individual e coletiva”, avaliou a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg.
A diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Ângela Leal, destacou a importância da oficina para fortalecer a articulação entre os dois temas e a transversalidade da Agenda 2030. “A cultura é uma forma de construção de vínculo e de fortalecimento das práticas e dos saberes dos territórios. Ela influencia profundamente em todo esse processo de cuidado, inclusive em como se percebe e se identifica a questão da saúde, do adoecimento, do processo de cuidado e de cura”, afirmou.
Em agosto de 2024, os ministérios da Cultura e da Saúde estabeleceram um Acordo de Cooperação Técnica. Uma das ações em conjunto prevê a integração da rede de Pontos de Cultura com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Segundo a secretária Márcia Rollemberg, é importante que os grupos e entidades culturais se sintam como promotores de saúde.
“Em alguma medida, quem faz cultura, quem faz arte promove saúde. Então, faremos uma pesquisa que busca instigar os pontos a pensarem essa dimensão da saúde nas suas ações do dia a dia na cultura”, afirmou.
- Foto: Victor Vec/ MinC
Experiências
Durante a oficina, diversas experiências foram compartilhadas. Entre elas, o trabalho do Ponto de Cultura Saúde e Alegria, que atua desde 1987 na Amazônia, com a arte, o lúdico e a comunicação popular. Sediado em Santarém, no Pará, o projeto conta com dois navios-hospitais e o Gran Circo Mocorongo, no qual ribeirinhos apresentam músicas, poesias, esquetes educativas e culturais.
“A origem da organização sempre foi essa união entre saúde e cultura. Foi a forma que encontramos de dialogar e de levar os conhecimentos, os assuntos de saúde para a população rural. Então, o Saúde e Alegria começou como um projeto de saúde, usando o palhaço, a brincadeira, a cultura e a valorização dos talentos das comunidades. Desde o início, a gente sempre entendeu isso: promover a saúde através de práticas culturais e de práticas artísticas”, explica o representante da organização, Fábio Pena.
Para ilustrar a importância das práticas artísticas na promoção da saúde mental, foram convidados dois projetos sediados no Rio de Janeiro: o Museu de Imagens do Inconsciente, fundado pela psiquiatra Nise da Silveira em 1952 e que abriga obras produzidas por pacientes em ateliês terapêuticos; e o bloco de carnaval Loucura Suburbana, que integra usuários, familiares, profissionais da saúde mental e moradores do bairro Engenho de Dentro.
“A nossa trajetória de 25 anos comprova a importância e a potência da cultura na saúde mental. A gente tem certeza de que isso tem que ser ampliado para todos os CAPs e se constituir realmente um sistema integrado entre cultura e saúde. Cultura e arte transformam vidas, instituições e a sociedade”, comentou a diretora do Loucura Suburbana, Ariadne Mendes
No campo das tradições, Ana Maria da Silva Soares, fundadora do Ponto de Cultura Coletivo Minhas Plantas, Meu Quintal, em Belo Horizonte, falou sobre o resgate dos saberes das raizeiras e benzedeiras. “Estamos há 10 anos trabalhando para valorizar essas tradições em grandes cidades, como Belo Horizonte. Então, a gente trabalha com a cultura, que titula nossas mestras e mestres, e com meio ambiente e a segurança alimentar, para discutir como trazer o plantio de ervas para os quintais das casas e até nos apartamentos. Então o nosso coletivo caminha internamente para fortalecer nossas tradições, nossos grupos de terreiros e o cultivo de ervas porque a gente sabe que essa é uma prática que veio na oralidade e do passado”, falou.
Além das experiências dos Pontos de Cultura, o MinC apresentou ações como o programa Territórios da Cultura, que visa ampliar o acesso à infraestrutura cultural no país, e iniciativas do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para reconhecimento de práticas tradicionais de cuidado. Um exemplo é o ofício das parteiras, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em maio de 2024.
Sobre o projeto
A série de oficinas busca fortalecer a ideia de criar um ODS específico para a Cultura, tema que será discutido na próxima Conferência Mundial da Unesco sobre Políticas Culturais (Mondiacult). A primeira oficina do projeto, realizada em abril, focou no ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), promovendo um debate sobre o papel da cultura na preservação do patrimônio e na criação de cidades mais inclusivas e sustentáveis.
As próximas atividades previstas para 2025 são:
– 7 de agosto: Cultura e Igualdade Étnico-Racial (dialogando com o ODS 10);
– 16 de setembro: Cultura de Paz e Cooperação (ODS 16 e 17);
– 18 de novembro: Cultura, Preservação Ambiental e Emergência Climática (relacionado aos ODS da dimensão ambiental).