BH recebe amanhã 1º Seminário de Produção Cultural Preta de Minas Gerais

Fonte :Estado de Minas

Evento com inscrições esgotadas será realizado no Memorial Vale nesta terça (11/4) e propõe discutir barreiras raciais e a representatividade de gestores.

Karu Torres, cofundadora do Instituto Aya, apresenta a mesa “Mulher preta pode coordenar, sim”(foto: Patrick Arley/divulgação)

O Instituto Aya de Arte e Cultura Preta e Periférica, criado em 2020 pelos gestores e produtores culturais Karú Torres, Nega Té e Victor Magalhães, promove, nesta terça (11/4) e quarta-feiras, no Memorial Vale, o 1º Seminário de Produção Cultural Preta de Minas Gerais. O evento, gratuito, vai reunir palestrantes com notória experiência em produção cultural em Belo Horizonte.

A proposta é abordar e compartilhar experiências acerca da realidade vivida por produtores e gestores pretos em Minas Gerais, a fim de potencializar as ações em torno da cultura afrodescendente e das iniciativas que brotam na periferia das cidades. O seminário é voltado, principalmente, para quem trabalha com cultura e encontra barreiras sociais e raciais para sua plena atuação.
Victor Magalhães, que atua em Belo Horizonte há sete anos como produtor e gestor cultural, diz que, ao longo desse percurso, pôde observar que houve avanços, no sentido de uma maior presença de pretos e pretas nessa área, mas que ainda não é uma representação equiparável com a de brancos.

Dificuldades da cena

“A ideia desse seminário veio com a pandemia, quando o setor de artes e entretenimento foi particularmente afetado. Decidimos, eu, Karú e Nega Té, analisar as dificuldades da cena para produtores pretos no que diz respeito, por exemplo, à captação de recursos ou obtenção de alvarás. Resolvemos fazer um debate mais amplo, envolvendo outras pessoas, para identificar melhor esses entraves e suas razões”, diz.
Ele aponta que a ideia é buscar soluções que possam ser levadas à esfera das políticas públicas. Há mais pessoas pretas produzindo, mas observa-se ainda uma carência de empreendedores, segundo Victor. O gestor considera que haja uma demanda por diversidade, equidade e inclusão nas grandes empresas, algo que parte do primeiro e do segundo setores, e que vai, aos poucos, chegando também ao terceiro setor, de prestação de serviços públicos.
“A gente tem conseguido fornecer mão de obra, mas não vejo muitos empreendedores pretos, que elaborem e aprovem projetos e tenham canais de captação de recursos. Ainda é uma grande maioria de pessoas brancas nos cargos de liderança e gestão. A gente quer trazer essa discussão à tona, propor debates que envolvam os órgãos públicos”, ressalta.
“Produção cultural preta: vivências, alegrias e frustrações” será o tema abordado por Victor Magalhães, cofundador do Instituto Aya
(foto: Marco Aurélio Prates / divulgação )

Realização periódica

Trata-se de um primeiro seminário, conforme ele destaca, porque a ideia é realizar esses encontros periodicamente, a cada 45 dias ou dois meses. “É uma discussão que, se colocada de modo permanente, pode ser ampliada para todo o Brasil, porque não é uma questão exclusiva de Minas Gerais. Quando falamos de grandes festivais, por exemplo, não conseguimos enxergar pessoas pretas no comando”, afirma.
Além de Karú Torres, Nega Té e do próprio Magalhães, participam do seminário os gestores e produtores culturais Felipe Mariano, Fredda Amorim e Kátia Amaral, com mediação de Simone Abreu. A escolha desses nomes se deu com base na experiência de atuação de cada um no cenário cultural local.
Sobre a escolha dos temas que vão conduzir a fala de cada um, Magalhães diz que foi algo bem permeável, relacionado com as vivências dos debatedores. “Cada um dos palestrantes vai trazer um pouco de seus processos, expondo suas dificuldades nessa área. Fredda Amorim, por exemplo, é uma mulher preta e transexual, então vai falar dos preconceitos que enfrenta, que passam até por questionamentos de competência”, aponta.

Inscrições esgotadas

Ele ressalta que esse é um debate necessário e premente, e que o fato de as inscrições para participação no seminário terem se esgotado tão logo foram abertas explicita isso. “Vai ser um evento com casa cheia”, celebra. Magalhães destaca que, com isso, o Instituto Aya já está cumprindo seus objetivos.
“O que a gente quer é fomentar esse campo da produção cultural preta, formar novos produtores, novos gestores, trazer essa discussão para o mercado, tentar captar recursos para desenvolver trabalhos voltados para a periferia, para ter mais pessoas pretas atuando no campo da cultura. O interesse que esse seminário despertou mostra que estamos no caminho certo”, diz.
• 1º SEMINÁRIO DE PRODUÇÃO CULTURAL PRETA DE MINAS GERAIS
Confira os participantes do evento que ocorre nesta terça (11/4) e quarta-feiras (12/4), das 18h às 21h, no Memorial Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários), com inscrições já esgotadas
>> Karú Torres – “Mulher preta pode coordenar, sim”
Gestora e produtora cultural, atuando desde 2007 em projetos tais como Festival de Arte Negra (FAN-BH), Festival Internacional de Teatro (FIT-BH), Mostra Benjamin de Oliveira, Noite do Griot, Palco Hip Hop, Festejo do Tambor Mineiro, bloco e banda Havayanas Usadas, entre outros.
>> Felipe Mariano – “Representatividade solitária de um produtor preto em grandes instituições”
Formado em comunicação, com especialização em produção de eventos culturais e corporativos. Atua há mais de 16 anos com experiências junto a Rubim Produções, Chevrolet Hall, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Time For Fun e Galpão Cine Horto. Gerenciou o setor de eventos e promoções do Governo de Minas Gerais.
>> Nega Té – “Produção executiva não é só para mulheres brancas”
Produtora cultural formada pelo Observatório das Juventudes da UFMG/Utramig. Idealizadora e gestora da Preta Produtora. Atuou na produção executiva de projetos como Oficina Feminina de Rap, Liquidificador Cultural – 7º Okupa a Cidade e Slam MG. Também atuou no FAN-BH, Fluxo, Planeta Brasil, Sensacional e Mostra Negras Autoras.
>> Fredda Amorim – “Inclusão LGBTQIA+ não é bagunça”
Doutoranda em teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina, mestra em artes cênicas pela UFOP, artista e performer. Produtora, coordenadora de logística no FIT-BH 2022 e de produção da Virada Cultural de BH (2022). Desenvolve pesquisa, ações e práticas nas questões de gênero e raça, junto à coletiva Queerlombos.
>> Kátia Amaral – “Inclusão social além do marketing”
Produtora cultural com formação em marketing, integra a equipe da Diretoria da Política de Festivais da Fundação Municipal de Cultura. Coordenou o setor de relacionamento do Festival Sarará (2018-2019) e do Festival Sensacional (2018-2020) em questões de responsabilidade social, acessibilidade e inclusão. Já atuou em eventos como Palco Hip Hop (2018), Festejo do Tambor Mineiro (2018), Arraial de Belô (2019) e carnaval de Belo Horizonte (2020).
>> Victor Magalhães – “Produção cultural preta: vivências, alegrias e frustrações”
Produtor e gestor cultural preto, idealizador e coordenador do projeto Palco Hip Hop e da Mostra de Arte Preta Periférica (MAPP). Atuou no Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, Festival Internacional de Teatro e Conexão Vivo. Coordenou a produção de projetos como o Duelo Nacional de MCs e o Duelo nas Quebradas.
>> Simone Abreu – Mediação
Com formação em produção de moda, iniciou a vida profissional como criadora de figurinos. Atuou como atriz, dançarina e maquiadora. Mulher preta, transexual e periférica, atualmente integra produções de grandes festivais e eventos culturais em Belo Horizonte.