Documentos raros sobre escravidão em Santa Catarina são divulgados por museu

O Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina disponibilizou de forma digital documentos raros sobre a escravidão em Santa Catarina

Por: Redação ND Chapecó

Via: ND Mais

O Museu do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) disponibilizou documentos raros sobre a escravidão em Santa Catarina. Os arquivos foram digitalizados e estão disponíveis para pesquisa gratuitamente.

O Museu Desembargador Tycho Brahe Fernandes Neto digitalizou os documentos históricos que registram o período da escravidão. São livros de notas manuscritos, intitulados “Venda de Escravos e Carta de Liberdade”, provenientes da Escrivania de Paz do Ribeirão da Ilha.


A informação foi divulgada pelo TJSC. Os materiais devem auxiliar historiadores, pesquisadores, jornalistas e estudantes. O conteúdo está disponível ao público na íntegra em uma plataforma pública e gratuita.

Além disso, vários trechos foram transcritos pelo historiador Adelson André Brüggemann, da Seção de Museu, o que facilita a leitura para as pessoas que não têm olhos treinados em caligrafia antiga.

Os arquivos contém as atas de eleições e também registros raros da vida social, como separação de casais com divisão de bens – circunstância desconhecida na cidade até então.

Segundo Lília Lacerda da Silva, chefe da Seção do Museu, “a publicação permite que os fatos relacionados à escravidão sejam conhecidos. Somente com o conhecimento evitamos a distorção da História e a repetição de erros do passado”.

Algumas transcrições dos documentos sobre a escravidão em Santa Catarina
Um dos documentos revelou o caso de uma mulher que comprou a própria liberdade por 200 mil réis. O documento diz que em Florianópolis, no dia 19 de abril de 1873, Joanna fez a ‘compra’:

“Sou senhora e possuidora de uma escrava crioula de nome Joanna, natural desta Província, a qual de minha livre e espontânea vontade, e sem constrangimento de pessoa alguma, concedo-lhe liberdade pela quantia de duzentos mil réis. Declaro ter recebido o valor da mão da dita escrava que fica liberta de hoje para sempre, a fim de que possa gozar sua liberdade como se fosse de ventre livre nascida.”

Doação de documentos sobre a escravidão em Santa Catarina
Em agosto, quando doou o acervo ao Judiciário, a oficial designada da Escrivania do Ribeirão da Ilha, Giane Catia Rosa Alves De Carvalho, contou como ficou impactada com o conteúdo sobre a escravidão.

A transmissão de acervo teve anuência do juiz-corregedor Rafael Maas dos Anjos, do Foro Extrajudicial. Na ocasião, ele disse: “Quando nos damos conta da existência de livros que relatam a vida na ilha décadas atrás, notadamente que havia uma cultura de entrega de crianças e seus futuros frutos como uma mercadoria para a realização de serviços, isso impacta. A reflexão a respeito é inevitável”.

O museu fica na sede do TJSC, em Florianópolis. É aberto ao público das 12h às 19h. Para grupos maiores, como turmas escolares, é aconselhável agendar horário.