Maurício Arruda: “A chave da sustentabilidade não são produtos, são as pessoas”

Fonte: Um só planeta

Em entrevista exclusiva, arquiteto detalha ações para tornar a casa sustentável

O arquiteto Maurício Arruda acompanhou a evolução da arquitetura sustentável Ruy Teixeira

Maurício Arruda acompanhou de perto a evolução e o interesse por arquitetura sustentável nas últimas décadas. O assunto vem ganhando espaço – na semana passada, por exemplo, o arquiteto falou sobre no episódio “É hora de re-construir”, do Nat Geo Podcast. Nesta entrevista exclusiva à Casa Vogue, ele relata como o tema faz parte na vida das pessoas e ensina maneiras de ajudar o planeta com atitudes responsáveis.

A arquitetura sustentável está na vida de Arruda desde 2000, quando, após se formar em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual de Londrina (PR) e emendar o mestrado na Universidade de São Paulo (USP), apresentou sua dissertação sobre “Habitação de interesse social construída com madeira de reflorestamento”. Cinco anos depois, abriu seu escritório na capital paulista e incorporou o conhecimento adquirido em seus projetos.

“Houve a discussão sobre descarte e substituição de materiais, começou a aparecer nos mercados mais opções para você gerir a água da sua casa do jeito mais inteligente, como torneiras economizadoras, depois vieram as lâmpadas de LED, que ficaram acessíveis… Conforme as coisas surgiram, fui incorporando nas obras e na minha vida também”, recorda.

“Hoje é um tema que está na boca de todo mundo. O mercado foi entendendo esse consumidor, disponibilizando mais alternativas e hoje a gente tem soluções sustentáveis para tudo o que se faz dentro de uma casa a respeito de revestimentos, lâmpadas, louças, metais, tecidos, tintas, MDF, piso laminado, cerâmicas… As empresas estão pensando nisso”.

Como começar
Elementos como piso de taco podem ser mantidos e restaurados — Foto: Luiza Schreier
Elementos como piso de taco podem ser mantidos e restaurados — Foto: Luiza Schreier

Um erro comum que desanima muita gente na busca pela sustentabilidade é acreditar que precisa fazer tudo de uma só vez, avalia o arquiteto. “Essa idealização atrapalha. A sustentabilidade é um caminho. Não acredito na casa 100% sustentável, acredito na casa que fica um pouco mais sustentável ano após ano, com a mudança de hábitos aos poucos. O passo mais largo do desenvolvimento sustentável doméstico são as ações mais simples”.

Além da troca das lâmpadas da casa pelas de LED, ele aponta que móveis e pisos podem ganhar sobrevida e ajudar na sustentabilidade. “Restaurar o piso de mármore antigo ou de taco, que trará um melhor conforto térmico e acústico que o de cerâmica, restaurar um guarda-roupa dos anos 50 todo feito de madeira maciça ou uma poltrona que já está família e há uma relação de afeto… O nosso papel é dizer ‘olha, dá para fazer isso, dá pra aproveitar, vai ficar legal e continuar sendo funcional, não precisa descartar'”.

Os materiais em si não são vilões, ensina. “Uma colher de plástico não é necessariamente uma colher não ecológica, depende de como vai ser usada e como vai ser descartada. A maneira como a gente reutiliza frascos de produtos de limpeza ou produtos de higiene também. O usuário é a chave da sustentabilidade: não são os produtos, são as pessoas com suas escolhas de compra, uso e descarte. E no futuro teremos uma arquitetura sustentável mais democrática, com soluções mais acessíveis economicamente”.